
Poesia
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slam: Os poetas do Povo
O Slam, como são mais conhecidas as batalhas de poesia, foi uma prática que surgiu nos Estados Unidos no de 1984 na cidade de Chicago, no estado de Illinois, pelo operário da construção civil e também poeta Marc Kelly Smith. Ele acreditava que a poesia tradicional era um estilo muito elitista e queria algo mais relaxado e livre.
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A origem da palavra Slam é controvertida. A versão mais popular e conhecida é de que se trata de uma onomatopeia que faz alusão ao barulho de uma porta batendo e demostraria o impacto que a poesia provoca em quem a ouve. Outra versão é de que faça referência os Slans ou fases finais de competições esportivas como o Basquete, Baseball e Tênis.
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Essa prática se relaciona com um movimento mais amplo, o Rap, abreviação em inglês de ritmo e poesia (rhythm and poetry) que surgiu também nos EUA na década de 70 nos guetos e bairros pobres no contexto de luta por mais direitos sociais e contra o racismo.
Na opinião do poeta de Guarulhos, na Grande São Paulo, Hiago Ronald Silva Fortunato essa também é um papel que o Slam cumpre aqui no Brasil: “acho essa é a essência”. Para Hiago, que artisticamente tem usa o nome de Kairós, a ostentação muitas vezes presentes em letras do estilo é uma forma de empoderar aquelas pessoas e se insere totalmente na nessa lógica de luta. “ É uma forma de querer mostrar para quem é de bairro. pobre que tem como chegar lá sem roubar” completa ele.
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Infográfico: Felipe Eduardo Costa
Para Gabriela Santos, conhecida no meio como Gabizine, e Marina Germano Lemos, mais conhecida como Mar, outro papel que o Slam tem é dar voz aos jovens, acolher e ocupar o território. “O Slam é um movimento que veio da periferia e que abarca tudo aquilo que está à margem, não hegemônico", diz Gabriela.

Acervo Pesssoal
Legenda: Gabriela acredita que a poesia do Slam é de combate
As duas fazem parte de um grupo de Slam na cidade de Jundiaí no interior de São Paulo chamado Slam do Zé. A ideia surgiu a partir de um Sarau que se realizava próximo a um bar da cidade chamado “Bar do Zé” por meio de um coletivo artístico chamado “Galeria” e esse mais em 2019 se torna um Slam por conta de uma reorganização de sua organização como nos conta Marina:
Para elas o evento surgiu devido a falta de espaços culturais e de programações para jovens que como Gabriela mesmo definiu “ estão conscientes ou tentam estar” e como uma “uma galera que trampa a semana inteira, ganha mal e sem perspectivas em um país com uma economia horrível e com um fascismo em ascensão” e que hoje é seu principal público, na faixa dos 18 anos aos 28 , “mas às vezes colam peças mais e crianças, mas tá tudo bem”. Para ela esse público hoje procura resistir à tudo isso através da arte:
Para Marina por sua vez o que mais motiva o grupo na sua opinião é escutar e partilhar a literatura oral do jovem que não é ouvido:” O jovem é o nosso principal foco de atuação”. “Nós queremos ficar nos espaços onde nós devemos estar, espaços periféricos dissidentes e apoiando essa população” diz ela em relação aos objetivos que o grupo busca.
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Para João de Luca, músico formado pela Unicamp e Diretor do Departamento de Cultura da Unidade de Gestão de Cultura do Município de Jundiaí uma característica comum a todos esses grupos é a sua organização totalmente autônoma e espontânea e que muitas vezes não se consegue dar atenção à todos.” Como é uma prática espontânea é da natureza dela acontecer uma praça pública de noite ou nas ruas” nos conta o gestor.

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Legenda: João de Luca ressalta a dificuldade de equilibrar interesses
Hiago nos conta que desde pequeno ouvia o Rap por causa de seus pais que eram fãs de “Racionais” mas foi apenas quando o seu professor na escola que pediu para que fizesse um poema sobre a ditadura que ele descobriu o seu talento: “aí eu pulei de cabeça nisso e comecei a escrever poesia”. Ele nos conta que já fazia rimas com seus amigos mas foi apenas em 2020 que tomou coragem e se inscreveu para uma batalha no seu bairro. “É uma energia surreal” diz.

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Legenda: Hiago, conhecido como @kairosdoflow, diz se sentir em casa nas batalhas
Para o poeta de Guarulhos o Slam é um “movimento acolhedor” que segundo ele “tenta incluir todo mundo que a sociedade exclui”. Kairós, como se referiu a si próprio várias vezes durante a entrevista e com o qual divulga seus trabalhos no Instagram, acredita que a poesia que se faz nesses evento se resume pela palavra “protesto”. “ É fazer uma poesia se perguntando porque um pai de família levou 80 tiros ou porque não acharam o assassino de Marielle “ fala o artista. Por isso na sua opinião o público desses eventos é predominantemente negro ou de brancos que vivem nas periferias e também passam por situações de opressão.
Na opinião de Hiago a pandemia “quebrou no meio” os Slams porque muitos artistas tiveram que migrar para a música para ter renda durante esse período levando consigo os frequentadores que seguiam esses artistas.
Já para Marina a migração para o ambiente virtual é uma tendência e acredita que inclusive seria possível terem feito mais atividades como lives, e embora lamente a perda do espaço territorial que é uma das lutas do grupo na cidade e diz que as atividades virtuais permitiram ter contato com poetas do resto país e até de Angola e participações em eventos como o Slam SP e o Slam Brasil.

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Legenda: Mariana diz que o Slam para ela foi acolhimento
Falando em oportunidades, é exatamente esse o alerta que nos faz Hiago: “a gente só precisa que olhem pra gente”. Ele acredita que as batalhas são um universo amplo e o que lhe inspira nesse trabalho é uma pessoa dizer para ele que uma rima sua fez mudar o dia dela. “Uma vez um cara mandou uma mensagem dizem que uma rima minha sobre depressão fez mudar a percepção dele”, diz Hiago. “Salvar vidas é algo muito grande porque a profissão mais valorizada é a do médico, mas as pessoas não olham muito pra gente” completa esse verdadeiro poeta.