
Poesia
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Grafite:Movimento
artístico e social
O grafite é uma expressão artística que remonta entre o final dos anos de 1960 e começo dos anos de 1970, em Nova York e também em Paris, ele está diretamente ligado a diversos movimentos, em especial ao Hip-hop. No hip-hop são três as vertentes da arte: rap (música), breakdance (dança) e grafite (pintura mural). Nascido das periferias, esse movimento, é uma forma de expressar toda a opressão que a humanidade vive, ele critica e questiona a sociedade.
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Mas somente, no final da década de 1970, influenciado pela cultura norte americana, o grafite ingressou no Brasil, especialmente no Estado de São Paulo, trazendo resultados imediatos na música e no movimento tropicalista (movimento nascido em 1967 que revolucionou o modo de fazer a música popular brasileira, que buscava tornar nossa música mais universal e próxima dos jovens). As periferias paulistas, não custaram a acompanhar os passos das grandes metrópoles mundiais e começaram a usar o grafite como forma de expressar artisticamente suas opiniões contra as imposições culturais.
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Durante os anos de 1980, a liberdade de expressão estava sendo caçada pela ditadura militar, com isso, o grafite na capital paulista virou polêmica, e foi considerado vandalismo e pichação. Dando um salto, do final dos anos de 1970, para os dias atuais, muita coisa sobre o grafite mudou. Principalmente, na forma em como ele é visto pela sociedade, que passou de crime e vandalismo a uma das artes, mais reconhecidas no mundo inteiro.
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Infográfico: Eduarda Abrantes
Segundo o grafiteiro e artista plástico, Junior Campos, mais conhecido como Juneca: “O grafite sempre foi marginalizado por ser uma arte urbana por falta de informação. O Brasil é um país que não possui o costume em ter uma cultura voltada à arte. Nós estamos engatinhando pra que as pessoas conheçam a arte mais de perto”, ele completa: “Eu acho que com a internet com essa globalização as informações começaram a chegar mais e isso as pessoas começando a apreciar, perceber e diferenciar a linguagem. Vendo as formas e cores nas ruas, as pessoas também o acabam vendo, porque o grafite está em todo o mundo todo”
Arquivo Pessoal


Arquivo Pessoal
Legenda: Junior Campos - Juneca
Legenda: “O grafite é uma arte efêmera” - Juneca
Há quem diga que o grafite popularizou a arte e não o contrário, que é o caso do diretor criativo de artes, designer gráfico especialista em embalagem, artista plástico e muralista Décio Ramirez: “O Grafite popularizou arte e não a arte que popularizou o grafite. Acho que nem a arte popularizou a arte. O grafite veio para popularizar a arte!”, ele ainda completa: grafite para mim é grafite, ele é uma leitura diferente, cada área da arte é uma leitura. No grafite você pode estar colocando quadrinhos, uma obra mais hiper-realista, como Michelangelo, Da Vinci. Grafite é grafite, elas podem se conversar. Mas cada uma tem uma linguagem específica". Mostrando assim, que através do grafite pessoas poder ver obras que somente seriam vistas em galerias, ou seja, o grafite populariza, democratiza e da visibilidade a arte.


Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal
Legenda: Décio Ramirez
Legenda: Décio em Frente a um de seus grafites no
Beco do Batman (Vila Madalena-SP)
O grafite é uma intervenção artística em espaços públicos, baseado em imagens e em problemas sociais, ele é uma forma de manifestação social e cultural, sendo considerado por muitos a voz das ruas. O grafiteiro e artista plástico, Anderson Eduardo Araújo Messias, “O grafite entra como voz das ruas, tanto o grafite, quanto a pichação. Se formos colocar assim é porque a pichação nada mais é do que um manifesto. Antigamente se usava como manifesto, pra poder por exemplo aumentou a gasolina, está sete reais a gasolina ou seis reais, mas, era três e cinquenta, então, o cara vai lá e picha numa parede grandão ou picha fora tal político”.
Ele ainda diz: “Isso, antigamente era uma pichação, as pessoas usavam um spray pra poder se manifestar contra algum político, algo do governo e o grafite acabou sendo assim, então o grafiteiro acabou usando a frase do pichador pra poder fazer uma arte com o rosto que ele gosta. Usando ali um manifesto de grafite e pichação, os dois juntos.”

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Legenda: Anderson Eduardo Araújo Messias em frente à um de seus grafites
Arquivo Pessoal/Instagram: @tourgrafite
Legenda: Tour Grafite, Mural sertanejo feito em
Trindade -Goiás
Essa intervenção artística, está presente em diversos locais pelas ruas de São Paulo, sendo vista por inúmeras pessoas. Contribuindo não só na disseminação do Grafite como arte, como, também ajudando em questões sociais. Philipe de Paula Santos, grafiteiro e artista plástico, fala que: “O grafite contribui demais com as questões sociais, através dele, fazemos leilões destinados a causas sociais, muitos artistas ativistas realizam murais para alertar a população em causas sociais, sendo o melhor jeito de falar com a população que passa pelos locais”.


Arquivo Pessoal
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Legenda: Philipe de Paula Santos
Legenda: “Decidi começar a grafitar pela liberdade de se expressar e pelo amor à arte” - Philipe de Paula Santos
Pedro Martinho Epifânio Terra, artista plástico e músico, completa dizendo que o grafite contribui para com as questões sociais: “O grafite contribui com as questões sociais porque ele acaba representando pessoas, ele é algum tipo de protesto, algum tipo de manifesto, de sentimento. Ele é visto e ajuda em algumas questões sociais sim, como por exemplo: o racismo, a homofobia, entre várias outras. Questões hoje que estão sendo vividas no mundo todo”

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Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal
Legenda: Pedro Martinho Epifânio Terra
Legenda: “O que eu busco mostrar nos trabalhos são sempre bastante cor. Para dar alegria”
Alguns grafiteiros pensam em desenvolver projetos sociais. Como é o caso de Juneca que contou que teve uma reunião com a regional do Ipiranga, sobre um projeto com o pessoal da Heliópolis: “Nós devemos trabalhar com o pessoal de Heliópolis para tentar viabilizar um trabalho social onde há a participação da comunidade e dos moradores do bairro. A ideia é estar preparando essa moçada, dando noções de cidadania, arte e cultura, pra que eles desenvolvam um trabalho próprio no bairro onde eles vivem, com isso vão ter uma galeria urbana perto do seu bairro e vão aprender a valorizar e conservar esse espaço público, que vai servir não só pra arte urbana como pra músicos, escultores, skatistas, pessoas da comunidade que é, a onde eu acho muito importante”.
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Arquivo Pessoal
Legenda: Junior Campos - Juneca
Ele ainda relata que já teve a oportunidade trabalhar com mais de 5 mil alunos na área de projetos sociais e em workshops, onde eles engajam e aguçam o interesse da moçada a estar desenvolvendo alguma coisa em arte. Não sendo somente o grafite, mas também o rap, a dança, o teatro, a escultura, batalhas de rimas, entre outras, já que existem vários meus de você e manifestar e deixar o seu recado.
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Juneca, também deixa um recado para as futuras gerações que pensam em ingressar no universo do grafite. Ouça abaixo:
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Para saber um pouco mais sobre os entrevistados, siga eles no Instagram:
Juneca: @junecajuniorartes
Décio Ramirez: @decioramirezart
Anderson Eduardo Araújo Messias: @andersongrafiteofficial
Philipe de Paula Santos: @philipepeaga
Pedro Martinho Epifânio Terra: @pedroterrashow